Incubadoras e empresas de economia solidária

Ao lado das já consagradas incubadoras de empresas “tecnológicas”, temos hoje no Brasil mais de quatro dezenas de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares – ITCPs. Estas últimas não se dedicam a empreendimentos privados, mas ao desenvolvimento de cooperativas formadas por gente pobre, que foi excluída ou nunca teve acesso ao mercado de trabalho e resolveu se associar para, em conjunto, se reintegrar na economia.

 

O cooperativismo popular surge no início da última década do século passado como resposta à crise de desemprego em massa e exclusão social. O aumento da criminalidade violenta suscitou, no Rio de Janeiro, a ideia de que a universidade deveria apoiar o cooperativismo popular, que já aparecia como quase a única alternativa legal de trabalho e renda para a juventude dos morros e favelas. A primeira ITCP surgiu na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1995. Em pouco tempo, os formadores da Incubadora estavam em atividade em diversos locais da periferia do Rio, onde quer que grupos de interessados solicitassem a incubação de seus empreendimentos. A notícia do êxito destas atividades provocou logo em seguida a formação da segunda ITCP na Universidade Federal do Ceará e, em 1998, do Proninc – Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares.

 

O Proninc ofereceu apoio financeiro à formação de ITCPs em mais 5 universidades e deste modo o envolvimento das mesmas com a economia solidária tomou fôlego. As incubadoras mais antigas ensinavam o ofício às novas. Em 1999, surgiu a Rede Universitária de ITCPs. O Proninc porém só dispôs de recursos para oferecer apoio às primeiras seis incubadoras, tendo as que vieram depois que contar com a ajuda das próprias universidades – as ITCPs são projetos de extensão das universidades – e de governos municipais, engajados no fomento da economia solidária.

 

O Proninc foi revivido e ampliado no mandato do Presidente Lula, quando entraram em seu Comitê Gestor a então recém criada Secretaria Nacional de Economia Solidária – Senaes e, gradualmente, o MDS, MCT, MEC e MS além das entidades fundadoras: Finep, Banco do Brasil, Fundação Banco do Brasil e Coepe. Em pouco tempo, os ministérios perceberam o valor das ações das ITCPs no desenvolvimento e viabilização econômica de empreendimentos solidários e passaram a solicitar o seu envolvimento em seus projetos, nas mais variadas regiões do país.

 

Hoje ITCPs incubam empresas de economia solidária formadas por grupos de favelados, de catadores de lixo, de egressos de manicômios, membros de comunidades quilombolas e muitos outros moradores deste imenso Brasil excluído e ignorado. Além disso, as ITCPs têm um impacto profundo em suas universidades, ao por seus professores e alunos, de graduação e pós, em contato direto com a luta destes trabalhadores. Os empreendimentos incubados são solidários, o que significa que os trabalhadores são os seus únicos donos, todos com os mesmos direitos de participar das decisões e de ocupar cargos em sua administração. Nas universidades em que há ITCPs, multiplicam-se pesquisas e teses sobre a economia solidária e muitos dos estudantes que atuaram nas ITCPs, uma vez formados, passaram a se dedicar profissionalmente ao fomento da economia solidária.

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