“A recente greve de quase um mês, que abrangeu 4 das maiores categorias operárias de São Paulo deve nos servir de precioso material, donde é preciso extrair as lições indispensáveis ao desenvolvimento da ação proletária, num sentido cada vez mais avançado e de resultados cada vez mais duradouros e de maior alcance. Se o movimento socialista quiser alcançar aquelas condições que lhe permitam a luta concreta pelo seu programa máximo, é necessário que ele se identifique com a classe operária, assimile as experiências desta e, na função de sua vanguarda autêntica, saiba retirar destas experiências as conclusões necessárias. Esta greve, pela extensão que alcançou e pela sua importância toda especial na atual situação política e social em que vivemos, deve ser cuidadosamente estudada por todo militante e simpatizante do partido, e para este estudo pretendemos oferecer o material proporcionado pela nossa experiência pessoal no setor metalúrgico.”
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Antecedentes: a demanda operária por ajuste salarial para repor as perdas inflacionárias e a negativa de qualquer negociação por parte dos patrões.
“Enquanto se formulava um ultimatum aos patrões, urgia preparar a greve, já inevitável. Estávamos em 20 de março; não havia tempo a perder. Era preciso imprimir material de propaganda, organizar um plano de finanças, convocar militantes, criar um sistema de piquetes. Nada disso foi feito. Os militantes stalinistas no último momento recuaram: Recusaram-se a aceitar a greve como um fato consumado, não tinham fé no espírito das massas e adotaram a linha de “segurar” o movimento: insistiram em continuar formando comitês de empresa, trabalho sem dúvida importante, mas longe de ser eficiente quando se estava a alguns dias do início do movimento.
No dia 25 de março, nova assembleia; pouca gente. (…) Subitamente estoura a notícia: os têxteis entraram em greve! Jubilo intenso; solidariedade comovente de todos operários. De repente é proposta por stalinista, a greve de solidariedade. E numa assembleia pequena, inesperadamente, os mesmos que antes impediram qualquer preparação concreta do movimento, declararam iniciada a greve. Ao oportunismo medroso seguia-se o aventureirismo temerário.”
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A fase de ascenção: enquanto o comitê central se atrapalhava, os operários se organizavam a partir de suas fábricas. “A espontaneidade das massas, o espírito de dedicação e altruísmo dos elementos mais simples da classe operária foi a causa primeira deste movimento único na sua extensão. (…) Haveria não poucos casos comoventes a registrar: o daquela fábrica em que 16 operárias paralisaram o trabalho e 300 homens continuaram no serviço até que chegasse o piquete pedido pelas primeiras e fizesse com que todos aderissem ao movimento; ou daquela outra que só empregava menores, que nem estavam registrados, e na qual o único que já era maior, um rapazinho de 18 anos, levou todos os meninos à greve. ‘Afinal de contas, pensei eu, nós também precisamos lutar pelo aumento, não é?’ disse-me ele quando foi levar a notícia de adesão da sua gente”.
A íntegra da reportagem pode ser consultada no Centro de Documentação e Memória da Unesp (CEDEM/UNESP): Paulo Singer, “A greve dos metalúrgicos”, Página Sindical, Ano V, p,.5, n. 1 (05/06/1953); n. 2 (05/07/1953); n.3 (20/07/1953)