Além da grande contribuição aos estudos literários, Antonio Candido também tem sido destacado pensador e militante do socialismo democrático no Brasil, desde a luta contra a ditadura do Estado Novo (1937 – 1945). Foi um dos fundadores da Esquerda Democrática, quando da redemocratização do país, que pouco depois se tornou o Partido Socialista Brasileiro. Conheci-o nesta condição, como dirigente partidário e integrante duma plêiade de intelectuais, que exerceram influência decisiva sobre a nova geração, que despertava para a política no pós-guerra, época marcada pela vitória sobre o nazi-fascismo das democracias ocidentais e da União Soviética.
Antonio Candido se engajou na luta contra a repressão do regime militar, sendo um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, em 1980. Recordo com emoção a série de debates sobre o socialismo que organizou, a pedido de Lula, no final do século passado. Ele aceitou a tarefa e convocou, para ajudá-lo, Chico de Oliveira e a mim. Os debates se estenderam por meses, em três, séries e contaram com a participação de lideranças teóricas e da alta direção do partido. Eles certamente contribuíram para definir os rumos da esquerda brasileira na nova etapa histórica que se abriu com o desaparecimento da União Soviética, o fim da Guerra Fria e o ressurgimento vigoroso dos movimentos sociais do povo trabalhador. Com sua fina inteligência e senso de humor, Antonio Candido mostra com seu exemplo que criação cultural e revolução social e política são atividades que não precisam se excluir, mas se complementam com proveito.
Texto escrito por Paul Singer nas comemorações dos 90 anos de Antonio Candido.