Este livro do Prof. Paul Singer, A CRISE DO “MILAGRE” – INTERPRETAÇÃO CRÍTICA DA REALIDADE BRASILEIRA, surge em momento propício. Reapresentando ensaios e artigos já publicados pela imprensa ou divulgados entre especialistas, e cuja unidade é dada pela análise do que se convencionou chamar o “milagre brasileiro”, coloca na ordem-do-dia a historicidade da crítica. Pois, na época em que foram formulados seus pontos-de-vista, bem como de outros economistas, sociólogos e políticos, não encontraram o eco necessário. Hoje, no entanto, já está claro, e vai se formando um consenso nacional em torno disso, que ao “modelo” brasileiro de desenvolvimento faltavam muitas bênçãos e alguma santidade para que se pudesse conferir-lhe o grau de “milagr e”.
Hoje, até os espíritos mais desavisados, abrindo as páginas dos principais jornais, poderão notar a dissenção existente no interior das classes empresariais do país – e o reflexo disso na própria política do Estado, que, às vezes, parece presa de certa ambiguidade. A discussão que ora se trava sobre estatização e privatização da economia, por exemplo, é apenas a ponte do iceberg e a cortina de fumaça que encobre todo o jogo dos interesses em confronto.
Os artigos e ensaios, ora representados em livro, situaram-se no âmago de um esforço que a inteligência brasileira desenvolvia para repensar o real, descobrindo-lhe a própria essência, em meio à euforia generalizada que toldava os espíritos e obscurecia as mentes. Os 2o. de crescimento do PIB uniam em torno à política econômica do governo, a maioria empresarial do país e cooptavam a tecnocracia para seguir os mesmos ritmos de desenvolvimento, como se aquele panorama fosse eterno. As vozes críticas que então se levantavam – e elas existiam de todos os matizes e modalidade eram abafadas pelo coro de elegias do “milagre”. Hoje, a própria crise econômica, com seus componentes externos e internos, encarregou-se de desnudar o “milagre” e despertar para a necessidade de uma análise mais profunda sobre o curso ulterior de nosso desenvolvimento as consciências mais lúcidas de todas as áreas e de todos os grupos sociais. E muitas das coisas que já se diziam, há alguns anos, são reapresentadas com ar de descoberta, como se novidades fossem.
A importância de trazer ao conhecimento de um número maior de leitores suas teses, respondo a historicidade da crítica, alia-se a autoridade de que desfruta Paul Singer como ensaísta e jornalista econômico. Capaz de expor de modo simples e direto os complexos e intricados temas da economia política, é ele uma das pessoas indicadas para o debate com o grande público. Essas qualidades maiores, o autor as vem desenvolvendo desde o final da década de 50 e início da de 60, quando publicou seus primeiros trabalhos.
O presente livro abrange quatro ensaios e cinco artigos, produzidos no período que vai de 1972 a 1975. Incidem, principalmente, portanto, sobre a fase em que o “modelo” brasileiro experimentou seu auge e começou a apresentar sintomas visíveis de crise. Os trabalhos estão dispostos em duas seções: na primeira, “Na perspectiva histórica”, estão colocados três ensaios voltados principalmente à análise estrutural da economia brasileira. Na segunda, “Momentos da Conjuntura”, como o próprio título indica, estão estudos de momentos específicos da conjuntura.
Os inúmeros ensaios e artigos reunidos neste livro abrangem não só o período de auge do ciclo, em que a atenção do autor se prende na tentativa de surpreender as limitações do processo, mas a fase em que se delineam claramente os sinais de seu esgotamento.
Paul Singer se preocupa em analisar o porquê da crise que prenuncia, combatendo a tendência a atribuir todas as dificuldades a causas de natureza externa.
Aloísio Teixeira, economista da UFRJ