Economia solidária e cultura

Em discurso recente, o Ministro Juca Ferreira disse: “Ao apostar na cultura como direito de expressão, exercício de cidadania, forma de realização humana e meio de transformação, o Estado Brasileiro também aposta na formação da ética pela estética, na superação da adversidade pela força da diversidade, na transformação do humano em humanidade, na reinvenção da vida por seu lado mais vivo e verdadeiro.”

Há muito tempo um sábio sintetizou o que é cultura dizendo que é tudo o que a vida cria em nome da vida. O que significa que a mulher e o homem ao viver em contato e confronto com a natureza e ao mesmo tempo com outros homens e mulheres, enfrenta dificuldades e desafios que só conseguem superar inventando conceitos e crenças, técnicas e conhecimentos, modos de interação e convivência, modos de produzir o belo e o bem e de punir quem pratica os contrários. Tudo isso é cultura, mas cada agrupamento humano cria seus próprios modos de conviver e confrontar, de conceber e crer, de trabalhar e conhecer, de entender o que é o bem e o mal, o belo e o feio. Por isso, cada agrupamento cria sua própria cultura, que constitui sua identidade, diferenciando-o de outros.

No mundo de hoje, há duas classes sociais básicas cujas experiências de vida produziram culturas muito diversas e, portanto identidades de classe opostas. Uma é a classe empresarial privada, proprietária dos meios de produção material e que vê na competição em todas suas formas a via mestra para o progresso, da superação dos fracos e incompetentes e da prática da justiça distributiva ao proporcionar o ganho de riqueza e poder aos que vencem pelas suas qualidades ao mesmo tempo em que marginalizam os seres comuns, tidos como medíocres e fracos.

Os demais formam as classes trabalhadoras, cuja experiência de vida as inclina a ver na cooperação em todas as formas o modo de convivência que lhes permite superar a pobreza, a fome e a doença e se organizar para a luta pela justiça social, pela igualdade de direitos e de recompensas materiais. Como os trabalhadores são a grande maioria, suas experiências de vida produziram diversas culturas, todas tendo em comum a valorização do coletivo e o repúdio ao privilegiamento dos poucos vencedores das competições.

A cultura empresarial capitalista é a liberal (ou neoliberal), que hoje prevalece no mundo, mas se confronta com as culturas do mundo do trabalho, cujo denominador comum tende a ser a economia solidária. Esta tendência se afirma cada vez mais no Brasil e em outros países da América Latina e começa a se desenvolver também na África, Ásia, Europa, América do Norte e Oceania. Na medida em que a economia solidária constitui uma proposta cultural aberta à confluência com os frutos de outras experiências históricas, de povos tradicionais de diversos continentes, religiões, línguas etc.. e dos mais jovens que já nasceram num mundo globalizado e desde cedo experimentam o choque entre culturas de classe opostas, que as conquistas cibernéticas vão difundindo, ela se torna o substrato comum das culturas do povo trabalhador de muitas latitudes.

 

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