Helena Singer e Marcelo Gomes Justo
Neste ano Paul Singer completaria 90 anos e, cada vez mais, suas reflexões, postura, ações e propostas são necessárias para reconstruir nosso país. Por isso, criamos um instituto com o seu nome. Mais do que preservar o legado, buscamos reinventá-lo, atualizando, recriando e, assim, mantendo vivas suas teorias e propostas.
O Instituto Paul Singer reúne os interlocutores e companheiros deste pensador cuja singular trajetória inicia como operário engajado na luta sindical e encerra como o primeiro e mais longevo Secretário Nacional de Economia Solidária. No caminho, uma longa carreira acadêmica que passou pela economia, sociologia e demografia e produziu extensa obra composta por dezenas de livros e artigos publicados em diversas línguas.
Assim é que dentre os companheiros do Instituto incluem intelectuais, gestores públicos, lideranças sociais e políticas de diversos países interessados na colaboração entre academia, movimentos sociais e Estado, para a elaboração de propostas e iniciativas que possam efetivamente contribuir com a reorganização da vida econômica, social e política.
As análises históricas de Singer sobre o modelo de desenvolvimento econômico visam sempre apresentar alternativas, saídas que promovam a democracia, inclusão, justiça social e solidariedade. De fato, sua visão de mundo deu lugar a um programa que amplia a participação, reduz as desigualdades, promove a colaboração e o compromisso ético com o bem de todos, inclusive do planeta.
Aprendemos com Singer que só é possível enfrentar todas as formas de desigualdade e injustiça coletivamente. As saídas nunca são individuais, nem fragmentadas. A transformação necessária reconhece a complexidade e se direciona às diversas instituições sociais – Estado, empresas, sindicatos, escolas, famílias. A organização coletiva é o eixo impulsionador, capaz de superar o autoritarismo em todas as instâncias e criar outras possibilidades de realização humana.
Singer convoca ao resgate da política com sentido humano e ético. Como Secretário de Planejamento da Prefeitura de São Paulo, entre 1989 e 1992, liderou as ações do orçamento participativo, colaborou na proposta de tarifa-zero e a municipalização do transporte coletivo, a construção de moradias populares e a elaboração do plano diretor da cidade.
Como Secretário Nacional de Economia Solidária, de 2003 a 2016, liderou a elaboração de políticas que possibilitaram o fortalecimento de mais de 20 mil empreendimentos de economia solidária, envolvendo 1,5 milhão de trabalhadores associados em todo o país, em fábricas recuperadas, cooperativas no campo e na cidade, assentamentos de reforma agrária, empreendimentos indígenas e quilombolas. A economia solidária inclui ainda cadeias produtivas orientadas pela realização humana e os cuidados com o planeta, não pelo lucro, além de feiras solidárias, e da rede nacional de bancos comunitários e moedas sociais, que possibilitam que a riqueza circule entre as comunidades que a produzem.
O Instituto Paul Singer mantém viva essa memória e recria as contribuições do autor em diversos percursos formativos e estratégias para a produção de conhecimentos. Entre suas primeiras atividades, destacam-se um ciclo de debates celebrativo dos 90 anos, um curso e a parceria com o Conselho Federal de Economia em um prêmio para projetos de extensão universitária em economia solidária. Em todas essas iniciativas, dialogam o melhor dos conhecimentos científicos com os conhecimentos e experiências dos trabalhadores, das feministas, das periferias, dos negros, dos indígenas, dos camponeses e de todas as forças comprometidas com o bem comum.
Artigo publicado nas versões impressa e online do jornal Folha de S.Paulo em 23 de março de 2022