A Demanda pelo Conhecimento Científico

O conhecimento científico é o mais social, o mais compartilhado e o mais discutido de todos os conhecimentos. Como somos dotados de fala e inventamos a escrita, usualmente comunicamos nossas observações e percepções uns aos outros e cotejamos o conhecimento assim obtido com o que já sabíamos antes. Novos conhecimentos, que se chocam com as expectativas, são freqüentemente discutidas pelos meios de comunicação de massas. Mas, este tipo de intercâmbio é conduzido um pouco ao acaso, como parte integrante da vida social. O seu resultante é um lastro de conhecimentos amplamente difuso que chamamos de ‘senso comum’.

 

O conhecimento científico difere do senso comum por ser o produto de observações propositais, sistematicamente comunicadas e discutidas por especialistas, que possuem extenso saber tido como provavelmente verdadeiro. O conhecimento científico é deste modo submetido a um exame coletivo meticuloso e sujeito a discussões, quando colide com parte do saber prévio. Graças à Internet, esta discussão abrange a maioria dos especialistas conectados. É razoável admitir que o conhecimento científico tenha maior probabilidade de ser verdadeiro do que o senso comum, mas seria claramente um exagero supor que qualquer proposição endossada por cientistas seja, só por isso, mais verdadeiro do que proposições sustentadas por leigos.

 

O que dá ao conhecimento científico grande credibilidade é que ele tornou possível inventos que mudaram nossa vida, do gerador de energia elétrica à comunicação sem fio e do avião e satélite artificial ao computador, sem falar dos remédios, da cirurgia, das vacinas etc.. Desde o século passado, descobertas científicas foram responsáveis por inovações tecnológicas que se mostraram imensamente benéficas à humanidade. Embora cada proposição científica só seja verificada por um número limitado de especialistas, sua aceitação pela comunidade científica confere-lhe imensa credibilidade por parte do público leigo.

 

Um dos efeitos do crescente prestígio da ciência é que a demanda pelos produtos dela cresce sem cessar. Os enfermos esperam que a ciência ofereça logo conhecimentos que permitam inventar curas para os seus males; o mesmo fazem as empresas, sobretudo as que aplicam tecnologia nova, ainda em processo de desenvolvimento, como a informática, a telemática, a biotecnologia etc.. Também governos, escolas, meios de comunicação e o público em geral apostam na Ciência como podendo e devendo oferecer novos conhecimentos para resolver todos os problemas.

 

Uma resposta a esta demanda em expansão pelo conhecimento científico é a derrubada da barreira que tradicionalmente separava a ciência pura da aplicada. A ciência pura – que lida com os fundamentos das diversas disciplinas em que se divide a ciência – era praticada nas universidades e academias, enquanto sua aplicação a problemas era desenvolvida em empresas, visando o lucro. Com os grandes avanços tecnológicos dos últimos decênios, os ganhos com novas invenções são muito grandes, o que encoraja muitos cientistas a focar seus esforços em problemas bem identificados, cuja solução depende de novos conhecimentos cuja obtenção é tida como factível.

 

Hoje tanto universidades quanto empresas fazem ciência pura e aplicada. A única diferença que ainda persiste é que as descobertas tidas como fundamentais são oferecidas gratuitamente ao público, mediante sua divulgação em revistas científicas, ao passo que descobertas que levam diretamente a aplicações práticas lucrativas podem ser patenteadas. A patente dá ao descobridor o monopólio sobre o conhecimento em questão por determinado número de anos. Durante estes anos, o detentor da patente pode autorizar o seu uso contra o pagamento de royalties, calculados em geral como percentagem sobre o total de vendas dos produtos que incorporam o conhecimento patenteado.

 

No passado ainda recente, a ciência era como o sacerdócio: era praticada apenas por uma elite de pessoas com vocação especial, muito distintas dos comuns dos mortais. Hoje, os trabalhadores da ciência são milhões, o que corresponde à generalização do ensino de ciências nas escolas e na massificação dos níveis mais elevados do sistema educacional.

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